Red Hot Chili Peppers fica sem animação e deixa o show acanhado em São Paulo

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2011, logo após o lançamento do disco I’m With You, viram a banda em São Paulo ou no Rock in Rio. Passaram-se dois anos, os californianos continuaram na estrada e, mesmo sem novidades, atraíram uma multidão para vê-los mais uma vez. A mesmice talvez tenha interferido na performance dos músicos, mesmo que diante de 34 mil pessoas, como foi o caso do show feito no Anhembi nesta quinta, 7.
Não que algum tipo de má vontade tenha transparecido – pelo contrário. A banda montou setlist recheado de hits e certamente satisfez aqueles interessados em cantar com Anthony Kiedis clássicos como “Californication” e “Higher the Ground”. Mas é inevitável uma sensação de frustração quando paira a sensação de que a energia entregue pelos artistas poderia ter sido mais convincente.
Desde o início, com “Can’t Stop”, os integrantes mostraram pouca movimentação em cena e se limitaram a repetir trejeitos já característicos – principalmente o vocalista, que mesmo quando pulava de um lado para o outro do palco demonstrava uma espécie de pragmatismo no que fazia. A segunda canção, “Dani California”, do disco Stadium Arcadium (2006), foi recebida com a mesma empolgação pelo público que ficou mais a vontade para cantar a faixa com linha melódica mais clara.
A grande atração do Red Hot Chili Pepper é mesmo Flea. O baixista, assim como o colega Kiedis, tem traços característicos e não economiza nos performáticos e estranhos passos de dança. Mais marcante que isto só mesmo as notas que tira do instrumento - elas servem como principal fundamento para uma linha evolutiva que se impõe durante a apresentação.
Foram poucas as vezes que os músicos dialogaram diretamente com a plateia. A maioria delas tinha Flea como interlocutor. O baixista entre uma e outra música ia até o microfone para comunicar em inglês de difícil compreensão agradecimentos aos fãs. “Obrigado por papaya”, disse ele, em uma dessas oportunidades, aparentemente fascinado pela fruta tropical (eles também fizeram menção ao arroz e feijão).

E por mais que esperava-se alguma demonstração mais enfática de energia, o show teve bons momentos, principalmente quando a plateia se dispunha a entoar os versos de algumas das músicas. “Under the Bridge” tem beleza rara e a plateia inevitavelmente reconhece isto ao erguer os braços e ceder ao famoso solo saído da guitarra de Josh Klinghoffer.
Quem também não passou desapercebido foi Mauro Refosco, o percussionista brasileiro parceiro de Flea no projeto Atoms for Peace que viajou com a banda nos últimos anos. Um solo de cuíca durante o bis e um berimbau em “Give it Away” foram algumas das invencionices que agregaram novas texturas à apresentação. Mas o que acrescenta mesmo ao espetáculo é um deslumbroso telão de alta definição que ocupa toda a parte de trás da cena e interfere no ambiente com imagens que vão do metafísico à ilustrações coloridas. As cores vibrantes, reforçadas por cinco colunas verticais de holofotes, impactam o espectadores de forma diferente a cada canção do repertório.
O clímax do show é com “By the Way”. A faixa de 2002 é perfeita para traduzir o estilo da banda que brinca com a velocidade e varia do caos agressivo às melodias agradáveis acompanhadas pela voz da plateia. A música foi a última antes do bis, e o grupo, aplaudido, voltou para o palco para tocar ainda “Around the World” e “Meet me at the Corner” antes da derradeira “Give it Away”.
Poderia-se esperar mais de uma banda experiente como o Red Hot Chili Peppers, que tem anos de estrada e acumula hits desde o início da carreira. De qualquer forma, os fãs deleitaram-se com um repertório competente e com o carinho recebido. Mas os aplausos finais poderiam ser mais merecidos caso não ficasse evidente a frieza dos músicos nessa nova passagem pelo Brasil.
Fonte: Rolling Stone